Principal unidade de ressocialização de adolescentes da capital dá lugar às novas instalações em que a palavra-chave é humanização
As paredes do antigo Caje, que por 38 anos deram sustentação à principal unidade de internação socioeducativa do Distrito Federal, foram demolidas neste sábado (29). O som alto de antes, provocado pelos internos dentro dos quartos superlotados e insalubres, agora, deu lugar ao barulho das máquinas e tratores que trabalham para encerrar um capítulo triste do antigo sistema de ressocialização.
"Esse é um governo de mudança, transformação, que veio para mudar e não fazer puxadinhos. Essa derrubada é um marco importante de rompimento com o passado e do fim de uma tragédia humana. Não foi fácil fazer esse rompimento, mas nós tivemos a coragem", frisou o governador Agnelo Queiroz, acompanhado do vice-governador, Tadeu Filippelli.
Em toda a sua história, o Caje abrigou milhares de jovens em conflito com a lei, que cometeram os mais diversos atos infracionais. A realidade dos internos, conforme a Agência Brasília noticiou na última semana, era marcada pelo excesso de pessoas nos quartos, falta de ventilação e, principalmente, de estruturas adequadas nas áreas educacionais, de saúde e de formação profissional, problemas crônicos enfrentados pela gestão Agnelo Queiroz. O governador, inclusive, fez questão de subir em uma pá mecânica e iniciar a derrubada.
"Quero dedicar esse momento aos 30 adolescentes que aqui morreram. Esta demolição significa uma ruptura com um modelo ultrapassado que ceifava a dignidade humana. A ruptura com velhas práticas não foi fácil, mas, com muita luta, conseguimos", disse, emocionada, a secretária da Criança, Rejane Pitanga.
As paredes que foram ao chão são as mesmas que presenciaram a morte de 30 internos e 2 servidores ao longo da existência da unidade. Essa realidade, segundo o auxiliar administrativo Wagner Ribeiro, 51 anos, será difícil de esquecer.
"Moro na Asa Norte há 44 anos e fico feliz hoje por ver essa decisão de demolir. Já tive a oportunidade de trabalhar, por pouco tempo, aqui, e vi de perto suicídio, jovens queimados, o que é difícil de esquecer. A população ganhou um presente", frisou.
DEMOLIÇÃO - A derrubada dos blocos do antigo Caje é feita com o apoio de 10 máquinas- quatro pás carregadeiras, dois tratores de esteira, uma retroescavadeira e três escavadeiras hidráulicas, além de 20 caminhões basculantes para remoção do entulho, que deverá ser transportado para o lixão da Estrutural.
A demolição ficará a cargo da Novacap, órgão que reaproveitará o material metálico que foi retirado e transportado em 80 caminhões. Os equipamentos utilizados no local, tanto os de escritório, quanto os das oficinas, já foram destinados a outras unidades.
NOVO SISTEMA - A desativação do Caje, é um fato histórico para o DF, faz com que o sistema socioeducativo entre em nova fase. Os internos, antes acomodados em situações degradantes e até "desumanas", conforme lembrou o governador, agora contam com novas unidades, amplas, em São Sebastião e Santa Maria -que já atende aos jovens. Há ainda uma terceira edificação, em Brazlândia, que será entregue também neste ano para completar a rede de unidades, e cumprir, de fato, o papel ressocializador.
As novas instalações, construídas em terrenos de 6,2 mil metros quadrados, tem capacidade para atender, cada uma, até 140 adolescentes distribuídos sozinhos ou em duplas nos quartos arejados e espaçosos.
Cada nova unidade é composta por 10 módulos, salas de oficinas profissionalizantes, escolas, área para visitantes, refeitório, campo de futebol, ginásio coberto, teatro de arena e espaço ecumênico, entre outras instalações.