Foi publicada, na edição de hoje do Diário Oficial do Distrito Federal, a exoneração da administradora regional de Vicente Pires, Maria Celeste Liporoni. Ela foi demitida do cargo ontem, após denunciar à polícia um grupo de integrantes da Associação de Moradores de Vicente Pires (Amovipe) por tapar buracos nas vias públicas da cidade. O vice-governador do DF, Renato Santana, assumiu interinamente a função.
A Administração Regional de Vicente Pires foi procurada pela reportagem para comentar a exoneração, mas não se pronunciou. Durante entrevista coletiva, na tarde de ontem, o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, disse que a conduta da administradora foi “inadequada e não condiz com o perfil de diálogo que o governo pretende adotar”.
Na terça-feira, o chefe de gabinete da administração, José Faustino de Paula, afirmou que o órgão não havia sido informado previamente sobre a operação tapa-buraco particular e que alguns moradores teriam ligado fazendo reclamações e denúncias sobre as obras não autorizadas. Após as ligações, a administração teria procurado a polícia pedindo apuração do caso e, em seguida, o grupo de moradores foi intimado a depor na 38ª Delegacia de Polícia, acusado de destruição do patrimônio público.
Operação particular
No último domingo, o presidente da Amovipe, Gilberto Camargos, comandou a operação tapa-buraco. Ele e outros moradores se reuniram, alugaram um trator e, com entulhos e terra recolhidos nas ruas da cidade, taparam buracos em um raio de 80m. A ação teve duração de 6 horas e, enquanto o trator fazia os reparos, Gilberto e outros associados pediam doações aos motoristas que diminuíam a velocidade ao passar pelas inúmeras crateras das vias de Vicente Pires.
Na segunda-feira, Gilberto e outros moradores foram intimados. No dia seguinte, sem se intimidarem com as acusações, saíram da delegacia após prestarem depoimento e foram direto para a Rua 10 da cidade, para o segundo dia de ação. “Vamos continuar até que o governo mande as próprias máquinas ou encontre outra solução. Ou, então, quando nos mandar para a Papuda”, afirmou, na ocasião.
Gilberto reclamou ainda que foi acusado injustamente, uma vez que, na ocorrência, constava a informação de que eles teriam removido 1.200 metros de asfalto. “Isso é mentira, trabalhamos em uma área bem menor. Temos fotos da rua antes e depois da nossa ação e podemos provar que não fizemos nada do que estamos sendo acusados”, disse.
Com faixas, sacolas para recolher doações, um trator e dois caminhões, eles continuaram os trabalhos. Os custos por dia de operação chegam a R$ 1.200, com o aluguel do trator e o pagamento do operador.
Prejuízo ao comércio
O presidente da Associação Comercial de Vicente Pires, Anchieta Coimbra, também presente nas ações, afirmou que as associações da cidade estavam unidas para promover a melhoria na qualidade de vida. “Se o governo não vai fazer, nós vamos. Só queremos ajudar a cidade e não é justo sermos punidos por isso”, disse.
Preocupado, ele acrescenta que a condição precária das vias de Vicente Pires tem afastado clientes e prejudicado os empresários da região. O faturamento das cerca de 2.300 empresas da cidade caiu em 40% nos últimos 40 dias, segundo Coimbra. “Ninguém que vir aqui comprar nada ou contratar um serviço se pode perder a suspensão do carro a qualquer momento. É impossível andar por aqui e isso está nos custando caro”, afirmou Coimbra. Ele tem receio, inclusive, que a crise econômica, agravada pela debandada de clientes, possa levar empresários à falência.
Após a polêmica, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sinesp) informaram que a licitação que prevê obras de infraestrutura em Vicente Pires está em fase de habilitação das empresas proponentes e que obras de pavimentação asfáltica e de drenagem de águas pluviais devem começar ainda neste semestre.
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