*Assim como o mundo político e a sociedade, que ainda torcem e esperam pelo início do atual Governo de Brasília, vi com surpresa o “pedido de demissão” do chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, na última quarta-feira (10).
Antes de me aprofundar no assunto, quero compartilhar a reação que pronunciei apenas para mim, mas com uma convicção de silenciar tudo à minha volta: “Esta é mais uma chance para Brasília!”.
Personagem de destacada atuação na campanha do governador Rodrigo Rollemberg, Hélio Doyle refirmou a sua capacidade para entrar no Palácio do Buriti pela porta da frente e ser convidado a se retirar pela porta dos fundos, muito antes do fim dos governos de Cristovam Buarque, Joaquim Roriz e Rodrigo Rollemberg. Dessa vez, o ex-chefe da Casa Civil ocupou um telejornal da principal emissora para acusar o Poder Legislativo local de práticas não republicanas. Hélio Doyle fez isso sem prova nenhuma, como ele mesmo admitiu. Acusou os parlamentares de fazerem lobby a favor de empresas, de pedirem cargos e outras coisas mais. Infelizmente, a prática do lobby no Brasil ainda não foi regulamentada, ao contrário do que há nos Estados Unidos. Para se fazer justiça, o então senador Marco Maciel, há mais de 25 anos, fez proposta neste sentido no Senado, a fim de disciplinar o lobby de grupos sociais e de empresas. Se a atividade estivesse regulamentada, Doyle estaria em maus lençóis e teria de provar as acusações.
As declarações são graves, estão gravadas pelas emissoras de TV, e o Ministério Público ainda não chamou ninguém para ser ouvido. Ao acusar sem provas, Hélio Doyle adota comportamento leviano e tenta transferir para o Legislativo a culpa pela sua queda, causada principalmente pela própria incapacidade de diálogo. É claro que a Câmara Legislativa não o engoliu desde o primeiro dia do governo que ele pensou ser dele, tentado mandar mais do que o governador eleito. Ficou evidente que o então chefe da Casa Civil não fazia o menor esforço para compreender o apelo dos parlamentares que batiam à porta do Buriti para, de forma legítima, levar as reivindicações da sociedade que representam. O ex-secretário tampouco entendeu as derrotas do Governo de Brasília na Câmara, demonstrando pouco apreço pela independência dos poderes e pela harmonia entre eles.
Voltando à minha primeira exclamação sobre o episódio, espero que o governador Rollemberg compreenda tudo isso como uma oportunidade que o destino lhe deu para finalmente fazer começar o seu governo. Pessoas qualificadas não lhe faltam, e, tendo a humildade de sempre, muitas delas estão aptas e disponíveis para que Brasília não perca essa chance.
É indispensável que Rollemberg desmonte tudo de errado que tentaram fazer em seu nome. A centralização doentia tem de ser completamente revista. Além de não promover a economia fantasiosamente anunciada, essa orientação travou o governo e revelou uma inoperância nunca antes vista na máquina administrativa da capital. Uma arma poderosa é a comunicação, utilizada de forma incompetente no governo passado. Agora, o setor pode ser reavaliado do ponto de vista da comunicação com a sociedade e de forma estratégica. Para isso, não pode ficar nas mãos de vaidosos, que apenas desejam administrar o polpudo orçamento da área.
Brasília vive a expectativa de que o governador eleito pela população elimine qualquer dúvida sobre o seu papel de protagonista das mudanças desejadas pela maioria da sociedade. Somente com o diálogo e uma melhor comunicação por parte do Buriti será possível construir soluções efetivas e dentro da legalidade para gargalos como a crise na saúde, os problemas de mobilidade urbana, as ameaças da criminalidade e a demanda legítima pela regularização definitiva de todos os condomínios.
*Wander Azevedo
Diretor Executivo da Associação Comercial do Jardim Botânico
Tags
ARTIGO
jornalista Paulo Roberto Melo
Paulo Roberto Melo
Por Paulo Roberto Melo - jornalista
Wander Azevedo
www.blogdopaulorobertomelo.com