LIMPEZA: Chega de sujões

Brasília é uma das poucas cidades planejadas, mas sofre com problemas comuns às grandes metrópoles. Um dos principais desafios da capital federal é a limpeza urbana, que afeta diretamente a qualidade de vida. O entrave vai além de políticas públicas e da gestão governamental. Coloca em xeque a saúde do brasiliense, que, nos últimos anos, também se boicota. O papelzinho atirado pela janela do carro, o lixo deixado antes do horário da coleta e o despejo em área pública de entulho e grandes objetos como sofás, geladeiras e pneus refletem no bem-estar da população.


No ano passado, cerca de 772 mil toneladas de lixo foram recolhidas nas ruas do Distrito Federal. Isso equivale a 85% do volume produzido nas casas, cerca de 844 mil toneladas. Diante dessa quantidade de resíduos e dejetos, autoridades e especialistas alertam para os riscos à saúde pública e apostam na consciência ambiental como solução para o problema. Segundo dados do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), a região administrativa mais limpa é o Plano Piloto. 

Doenças como diarreia, dengue, leptospirose, cólera, infecções de estômago e de pele, entre outras, são facilmente evitadas quando práticas simples de higiene fazem parte da rotina. Segundo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 67% das crianças e adolescentes não ficariam doentes se vivessem em ambientes urbanos mais asseados.

Na contramão da saúde coletiva, estão 897 pontos de constante poluição, com base no mais recente levantamento do SLU, que mapeou todo o DF no primeiro semestre. São praças, esquinas e áreas públicas transformadas em lixões a céu aberto. “Essa é uma questão de consciência ambiental e de responsabilidade cidadã. Na maioria dos casos, estamos enxugando gelo na limpeza das cidades. As equipes recolhem a sujeira e, em menos de 10 dias, a situação é a mesma”, ressalta Kátia Campos, diretora do SLU.

As marcas da sujeira também estão nas filas de hospitais e nas emergências lotadas. Não há estatísticas específicas no DF que relacionem doenças com a higiene da cidade. A literatura médica aposta que 30% dos casos seriam reduzidos apenas com o acondicionamento correto do lixo e a lavagem das mãos. Para o diretor da Vigilância Sanitária, Manoel Neto, a consciência ambiental e a responsabilidade social da população estão longe do ideal. “O controle integrado de pragas é baseado em tirar o alimento dos agentes infecciosos. Por exemplo, no caso da leptospirose, tiramos o lixo a fim de afastar os ratos. Com higiene, podemos afastar vetores potenciais de muitas doenças. O cuidado com a limpeza está diretamente ligado ao menor risco de doenças”, alerta.

Falta educação

Maria do Carmo de Lima Bezerra é doutora em planejamento ambiental e urbano. Desde 1970, trabalha com gestão ambiental urbana. A especialista atribui o hábito do brasiliense de despejar em qualquer lugar os seus dejetos ao crescimento desordenado, à produção exacerbada de lixo e à falta de trabalhos educativos. “Não houve nenhuma campanha que estimulasse a responsabilidade com o lixo em 55 anos de Brasília. Com isso, as pessoas ficam à vontade para jogar lixo na rua a toda hora, sem preocupação de como isso afetará a vida coletiva”, destaca.

As poucas lixeiras também são alvo de críticas. “Elas são extremamente pequenas, em média com 30cm, e colocadas de forma que não atende à demanda. Também não há manutenção regular para recolher o que é depositado nelas. O essencial para uma cidade moderna é que as pessoas tenham responsabilidade com seu lixo. Guardem consigo e descartem em casa”, ensina.

Em nota, a Novacap informou que, desde o ano passado, existe um edital de licitação para a compra de 23 mil lixeiras. O processo se encontra na Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth) para reavaliação. Não há cálculo de quantas unidades existem hoje no DF.

Na última pesquisa de qualidade de vida da Mercer, empresa especializada em pesquisas, Brasília caiu duas posições no ranking mundial. Isso ocorreu devido à saúde e à higiene da cidade. Atualmente, ela ocupa a 107ª posição, segundo o estudo que abrange 230 metrópoles.“Consideramos alguns aspectos referentes a serviços hospitalares, doenças infecciosas, água potável, esgoto, poluição do ar, entre outros. A análise desste fator é fundamental para entendermos o nível de qualidade de vida da população. Saúde e higiene apresentam o segundo maior peso na pesquisa, atrás apenas do fator relacionado ao ambiente político e social”, explica Karla Costa, consultora da Mercer Brasil.

O brasiliense sujão não sofre nenhum tipo de punição. O descarte de um papel de chiclete ou de uma caçamba de entulho passa despercebido. Em abril de 2012, um projeto de lei do deputado Agaciel Maia (PTC) foi aprovado na Câmara Legislativa, mas não teve regulamentação por parte do Executivo local. A proposta estabelece que o infrator estará sujeito a advertência na primeira vez em que jogar lixo na rua e a aplicação de multa em caso de reincidência.

A fiscalização dos resíduos sólidos descartados pela população e as multas são atribuições da Agência de Fiscalização (Agefis). Ao todo, são 246 auditores para fiscalizar as 31 regiões administrativas. O órgão diz que o número é insuficiente. Para ser multado, o infrator deve ser flagrado. “O cálculo das multas é feito pela variação do tipo de resíduo jogado, o local onde foi despejado e a quantidade. O valor pode variar entre R$ 114 e R$ 11 mil”, informou a Agefis, em nota.

Fiscalize você também
Flagrou um porcalhão? Viu um vizinho jogando lixo onde não devia? Perto da sua casa tem um lixão a céu aberto? Há um bom exemplo perto de você? Fotografe ou faça um vídeo e mande para o BLOG. Publique o flagrante nas redes sociais usando a hashtag #euquerominhacidadelimpa ou mande para o WhatsApp do BLOG 8225-4660 com seu nome, local, dia e horário da infração.

Fonte: Redação.
Postagem Anterior Próxima Postagem
Canaã Telecom

نموذج الاتصال