Alterações acontecerão, principalmente, no segundo e no terceiro escalões, para agradar partidos aliados
Foto: Olivar de Matos.
Interino, Michel Temer aguarda a concretização da saída de Dilma Rousseff do governo para implementar uma nova estratégia de apoio na Câmara e no Senado
Não é apenas a mudança do conceito de interino para efetivo de Michel Temer que será alterado após a conclusão do processo de impeachment do Senado Federal, previsto para o fim deste mês. É praticamente certa — não necessariamente imediata — uma mudança de rostos e estruturas de poder na Esplanada dos Ministérios para marcar o novo momento da gestão do peemedebista. Nomes como os do ministro da Saúde, Ricardo Barros, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, devem ser substituídos. Temer deve efetivar Marx Beltrão no Ministério do Turismo. E uma nova configuração no segundo e no terceiro escalões deve acontecer para acalmar os partidos que davam apoio ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
As sucessivas gafes cometidas por Barros já fizeram com que a substituição dele fosse assimilada pelo principal comandante partidário, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O titular da Saúde já falou mal do Sistema Único de Saúde (SUS), propôs a criação de um plano pago para atender a população carente e afirmou que os homens vão menos ao médico porque trabalham mais que as mulheres. Nogueira enfrentou a ira de setores da legenda por ter apoiado um nome que não era, inicialmente, favorável ao impeachment. Concorda agora em promover a troca, mas não abre mão de que a pasta continue na cota do partido.
O PP, inclusive, entrou em uma disputa aberta com o PSC, do líder do governo André Moura (SE), pelo segundo escalão da Caixa Econômica Federal. “O PSC é uma legenda que tende a crescer em espaço em uma futura administração de Temer. O partido começa a ocupar um espaço de centro-direita que está vago. E tem ideologia, diferentemente do PMDB”, afirmou o coordenador do MBA Relações Institucionais do Ibmec/DF, Márcio Coimbra.
Coimbra é um dos que apostam que, passado o impeachment, o antigo centrão, que deu apoio a Cunha durante a gestão à frente da Câmara, terá de ser atendido com mais cargos. “É inevitável que essas legendas ganhem mais visibilidade e prestígio para que o governo Temer tenha estabilidade congressual”, explicou o coordenador do Ibmec. A primeira mudança, inclusive, já foi confirmada, com a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A pasta, que foi fundida ao Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Osmar Terra, voltará a ter uma estrutura própria e será administrada pelo Solidariedade, partido presidido pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP).
Essa parceria não será restrita apenas ao centrão, mas às legendas mais tradicionais, na opinião do professor de ciência política do IBMEC/MG Oswaldo Dehon. “Legendas como o PSDB, por exemplo, terão um peso maior na administração, a partir desta segunda fase de gestão”, reforça. Isso já aconteceu, de maneira concreta, na última quarta-feira, quando, após um jantar com a cúpula tucana no Palácio do Jaburu, Temer confirmou que ouvirá com mais frequência e atenção os conselhos da legenda na área econômica. “Ele quer a alma do PSDB em seu governo”, afirmou o líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).
Para Márcio Coimbra, essa parceria poderá ser benéfica para o governo. “O PMDB é um partido que tem corpo, é operacional, vota. Mas não tem cabeça, não formula nada. Já o PSDB tem cabeça, projeto de país, planejamento estratégico. Mas não tem o mínimo poder de articulação”, afirmou o coordenador do MBA. Segundo ele, a principal prova da ausência de capacidade de formulação do PMDB é que o partido “terceirizou” as principais pastas estratégicas da Esplanada: Relações Exteriores está com o PSDB; Fazenda, com o PSD; Agricultura, com o PR; Educação, com o DEM. “As pastas operacionais, como Integração Nacional e Casa Civil, estão nas mãos do PMDB”, disse Coimbra.