Papelão e sacos de cimento viram arte em Taguatinga

Beco da Cultura abrange várias iniciativas artísticas voltadas para práticas sustentáveis

A cena cultural de Brasília é repleta de expressões artísticas, começando pelas obras de Athos Bulcão, no Plano Piloto, e se espalhando por todo Distrito Federal. Em Taguatinga, o Mercado Sul Vive é um reduto de arte contemporânea e sustentável que expõe iniciativas culturais e coletivas. Materiais descartáveis como papelão e sacos de cimentos são transformados em móveis na oficina do artesão Virgílio Mota. “Cheguei aqui através de um amigo já faz 12 anos, mas já mexo com papelão há 17 anos. Sobrevivo disso”, conta ele.

O Mercado Sul é um conjunto de prédios comerciais que existe desde 1958. Com o tempo e a decadência no local, houve o abandono. Porém, em 1990, iniciam-se as atividades culturais, e o espaço passou a abrigar diversos pontos de cultura, formando um Beco Cultural.
Nas mãos do Seu Virgílio, o papelão vira matéria-prima para decoração, móveis e utilitários

Virgílio, mais conhecido como Seu Virgílio, produz móveis, objetos decorativos, cenários e instrumentos musicais como guitarras, a partir de papelão e sacos de cimento. A matéria-prima é adquirida do descarte de indústrias e obras próximas à oficina. As peças variam de R$ 15 a R$ 2 mil. A loja dele, Tempo Eco Arte, recebe pessoas de vários lugares do Brasil e do exterior. “Uma das premissas daqui é o compartilhamento do conhecimento. Quase todos os dias têm pessoas fazendo oficinas, pessoas que estão viajando. Há alguns dias, tinha uma suíça, uma venezuelana e um gaúcho. Eles passam um mês conosco e depois vão embora”, comenta. O artesão enfatiza ainda o quanto gosta do lugar. “Eu gosto de morar aqui. Inclusive quando eu fizer uma reforma, eu quero colocar uma placa na frente escrito: eu gosto de morar aqui”.

Hoje, cerca de 20 grupos atuam de forma autônoma no espaço trabalhando com cultura popular e tradicional, oficinas de artesanato, economia solidária, hortas urbana, confecção de móveis com papelão, instrumentos musicais e muitos outros. Há, também, a ecofeira, que é realizada mensalmente com artesãos, músicos e artistas que se juntam para vivenciar a arte.

Um dos gestores do Beco da Cultura, Abder Paz destaca que mesmo as pessoas trabalhando de forma independente, há um apoio conjunto. “As pessoas trabalham muito juntas, cada um tem o seu projeto. Eu trabalho com teatro. Se eu precisar de um cenário, vou convidar o Vigílio para fazer. Criou um arranjo produtivo, um ciclo de trabalho”, afirma.

O espaço destaca a cena cultural da cidade com vários tipos de arte

O espaço abriga o Mercado Sul, o Movimento Cultural e a Ocupação Cultural. As atividades do movimento cultural começaram há cinco anos em uma loja alugada que era custeada por vários grupos culturais. Com o aumento do aluguel, eles foram obrigados a deixar o local. “A gente estava sem espaço. Então começamos um movimento de ocupação. Vários grupos, não todos, fizeram um processo de ocupação cultural, e ocuparam oito lojas que estavam abandonadas. Eles estão lá há dois anos, com oficinas de artesanato, ensinam manutenção de bicicleta para a comunidade, tem a ecoloja, que é uma loja de economia solidária, tem hortas urbanas, tem o espaço que a gente faz a assembleia, teatro”, conta Abder.

As lojas ocupadas são de propriedade privada e o dono reivindica a posse na Justiça. A Secretaria de Cultura, por meio da assessoria, informou que já realizou diversas visitas técnicas ao local, que culminaram em setembro do ano passado na entrega de uma manifestação oficial de interesse em apoiar a manutenção do espaço cultural. A Secretaria reconhece a importância de ações como esta do Mercado Sul, por representar uma visão moderna do direito à cidade e a possibilidade de requalificação de áreas urbanas degradas por meio da ação cultural. Sobre o processo judicial, a nota informa que a equipe da Assessoria Jurídica e Legislativa da Secretaria de Cultura atua para propor soluções para o espaço.

Para quem quiser visitar, o Mercado Sul fica no Setor B Sul QSB 12 – Taguatinga Sul, às margens da via Samdu Sul. As lojas funcionam todos os dias, com horários variados. Outras informações, ligue (61) 98232 4118.
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