ENTREVISTA: Senador Cristovam Buarque

Todos os dias, ele faz um teste de resistência física e outro, de popularidade. Vence a pé o trajeto de casa, na 215 Norte, até o Senado. Por vezes, o fôlego não aguenta e para na padaria para despachar, lendo mensagens no celular, e avaliar se “está indo bem na fita”. Ali, na 202 Norte, como no plenário, Cristovam Buarque percebe que há um sentimento geral de déjà-vu. “É inegável que há um clima de fim de governo Dilma”, sentencia. O senador não contemporiza quando o assunto é o temperamento da presidente, que, a seu ver, potencializa o clima de insatisfação geral: “Ela deveria deixar a arrogância de lado, ser humilde e buscar o entendimento”, aconselha, depois de comentar que colegas senadores falam abertamente que “nem o Lula aguenta mais a Dilma”.
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Foto: Pedro paulo.

O ex-governador também revela um bastidor. Segundo ele, há setores que acreditam que Lula estaria disposto a buscar uma alternativa que contemple uma saída negociada da presidente. Um impeachment seria traumático, mas, com o aval do ex-presidente, a situação mudaria. Nesta entrevista ao Correio, Cristovam não aponta apenas os erros do PT, seu antigo partido. Alfineta seu correligionário Reguffe, por defender a redução da maioridade penal. Sobre a possibilidade de os irmãos Gomes (Ciro e Cid) migrarem para o PDT, ele é explícito: não os receberá de braços abertos.

O desgaste político atinge todos que estão na vida pública, avalia o senador do DF. Cristovam diz que a classe política está em débito com o país. “Nenhum de nós pode ir a uma manifestação. Estamos todos muitos desgastados. O povo se cansou deste Fla x Flu eleitoreiro entre PT e PSDB”. Ele fala ainda sobre excesso de cotas, se mostra contrário à eleição direta para reitor e diz que o governador Rollemberg caiu numa armadilha e precisa começar a se mexer.

"É inegável que há um clima de fim de governo Dilma que vem crescendo nas últimas três ou quatro semanas"

"Hoje a eleição direta não é um bom instrumento para escolha de reitor. Você vota em quem vai reduzir sua carga de trabalho, lutar pelo aumento de salário. O espírito da universidade ficou em segundo lugar"

"Rodrigo (Rollemberg) caiu na armadilha da falta de dinheiro e não está percebendo que não vai terminar bem se não for capaz de fazer coisas apesar da crise"

No Senado, o senhor sente que existe um clima de fim de governo Dilma?
Lamentavelmente, existe. Digo lamentavelmente porque, na democracia, o ideal é que um governo termine quando termina o seu mandato. É inegável que há um clima de fim de governo Dilma que vem crescendo nas últimas três ou quatro semanas.

O que complicou?
As declarações dela. Dei um adjetivo e um colega do Senado considerou forte. Mas, francamente, achei aquela entrevista dela à Folha de S.Paulo patética. Além de arrogante, ela estava fora de sentido. Não era uma entrevista de presidente da República. Não parecia estar ligada à crise que a gente está vivendo. Não fez e não vem fazendo gestos para todos os brasileiros, inclusive os que não votaram nela, incluindo aí os da oposição. Ela tinha que fazer gestos neste sentido. Tenho conversado muito com os senadores para saber como vai ser o dia seguinte à manifestação do Tribunal de Contas da União e o dia seguinte ao TSE. Vamos supor que o TSE diga que não tem nada disso e arquive o processo do PSDB contra a presidente. Como vai reagir o PSDB e como vai reagir o governo?

A presidente Dilma deveria mudar a postura?
Ela deveria adotar uma postura humilde e buscar o entendimento. Temos que sair deste Fla x Flu que é o PT x PSDB. Este país não aguenta mais esta disputa. E qual a maneira de encarar isso? Com o entendimento, entre eles, inclusive.

A crise política é maior do que a econômica?
PT e PSDB não têm nenhuma discordância ideológica de interesses diversos. A política econômica da Dilma é muito parecida com o que faria o PSDB. O Joaquim Levy poderia ser ministro do Aécio. A disputa está sendo eleitoreira e comportamental. Cada um dizendo que é o outro que rouba. Questão de comportamento. E eleitoreira. Cada um vendo como tira proveito das falhas do outro. Isto tem que ser quebrado. Como se quebra isso? Com o entendimento.

A presidente tem interesse em fazer esse entendimento?
A minha preocupação hoje é o ânimo da presidente. Ninguém pergunta se as posições políticas permitem. Não é isto que está em discussão. O que está em discussão é a postura da presidente.

Quando começou o descontentamento com o governo Dilma?
Não sei quando começou. Desde o começo do governo se dizia que ela era uma pessoa muito difícil. Ela brigava muito, era uma pessoa muito dura. Eu não sei porque nunca tive contato direto com ela.

Nem quando foram ministros juntos?
Tive muito pouco contato com a Dilma. Eu tive uma ou duas reuniões em pé. Ela chamou para um almoço os senadores do PCdoB e do PDT, uma única vez. Tinha uma história interessante: antes de sentarmos à mesa, sentamos num sofá, ela resolveu manifestar interesse com o resultado das Olimpíadas de Matemática porque o Colégio Militar tinha se saído muito bem. Eu disse pra ela: “Presidente, é isso que precisamos para o Brasil, federalizar as escolas. Elas são as melhores”. Daí, fui pro meu gabinete e escrevi uma carta de quatro páginas em que proponho como fazer os Cieps da Dilma. Um Cieps por cidade para substituir o sistema carcomido e velho que está ali por outro, com professores federais, escolas com a qualidade federal, com equipamentos da melhor qualidade em horário integral. Entreguei a Gleisi Hoffmann, entreguei ao Gilberto Carvalho, a outros ministros. Nunca recebi uma resposta, nunca me mandaram conversar com o ministro da Educação para saber se aquilo prestava ou não. Foi a única conversa que tive com a Dilma. Para mim, esse é o maior problema do Brasil hoje: falta de diálogo com a presidente da República.

Na sua avaliação, o ex-presidente Lula está insatisfeito com o rumo das coisas?
Os senadores do PT falam abertamente que o Lula não aguenta mais a Dilma, que ele não suporta mais essa situação, que o Lula está se afastando mais e mais dela.

Acha que Lula está buscando uma alternativa que contemple uma saída negociada da Dilma?
Tem muita gente que fala que o Lula está querendo que ela renuncie. Nenhum dos senadores do PT me disse isso, mas a gente sabe que dentro do PT muita gente acha que a melhor saída para o próprio partido seria a renúncia dela. Aí, o vice assumiria, que não é inimigo, e o PT construiria o seu caminho dentro ou até fora do governo. O Lula é uma pessoa inteligente. Essa posição poderia até acalmar o Brasil hoje; se tiver o aval do Lula, naturalmente.

Mas isso não pareceria golpe?
Com o aval do Lula, não. Se ela sai imposta por um impeachment, é traumático. Se ela é cassada junto com o Temer, é diferente, aí parece golpe.

A presidente Dilma já disse que não tem perfil de quem renuncia?
Sim, ela já disse, mas se o Lula negociar esta saída, a situação é outra. Se ela sai imposta, parece golpe. Digo parece porque, como está dentro da legalidade, não dá pra chamar de golpe.

O senhor vê motivo para tanto descontentamento? Por que se criou esse desgaste?
O povo percebeu que nós, políticos, temos uma dívida com o povo e com o Brasil. Vou mostrar: nós construímos essas monstrópoles que são as grandes cidades brasileiras. Não digo nós do atual grupo. Digo nós me referindo aos últimos 50 anos. O que mobilizou as pessoas em 2013 foi a mobilidade precária e ruim. Nós temos uma dívida com o sistema de saúde que não atende às pessoas. Nós temos uma dívida com a quantidade enorme de partidos. Partidos de aluguel, partidos vendidos...

Quem poderia liderar esse processo de conciliação do país?
Ela (Dilma) tem que estar de acordo. Ela tem que dar a voz. E há duas pessoas que poderiam chegar a isso: Lula e Fernando Henrique Cardoso. Não vejo outros.

E eles têm disposição para isso?
Liguei para o Fernando Henrique uma vez. Para o Lula, não liguei. Senti nele (Fernando Henrique) uma predisposição de conversar pelo Brasil. Também pedi a algumas pessoas para fazerem isso. Uma delas fez. E vou cometer aqui uma indiscrição: o Rodrigo Rollemberg fez isso. E ainda disse: “Foi Cristovam que me pediu”. Falou com os dois, há três meses.

Qual foi a resposta?
A sensação é de que nenhum dos dois se entusiasmou. Nenhum dois levou a sério.

O Brasil parece um campo de batalha?
Exatamente. Com uns timezinhos pequenos e um Fla x Flu.

E as redes sociais inflamando ainda mais?
Qualquer coisa que eu diga contra um dos dois lados, tomo pancada. Hoje, no Brasil, quando você diz uma coisa que não está de acordo com um ou com outro, você é murista.

As pessoas demonstram descontentamento com o senhor nas ruas?
Quando eu estou sozinho, não. E eu ando na rua o tempo todo e não ando só aqui no Distrito Federal. Mas nenhum político tem condições de ir pra essas grandes manifestações. Se eu for pra uma manifestação dessas, pode ser que o povo não aceite também.

Não existe um nome alternativo para liderar esse processo de conciliação?
O pior é que, se surgir, a meu ver, será daqueles que representam um retrocesso. Vamos reconhecer: eu bati demais no PT e no PSDB, mas esses dois partidos provocaram grandes avanços no país. A estabilidade monetária vem do PSDB, o Bolsa Família vem do Fernando Henrique, continuado pelo Lula. Esses dois partidos foram bons para o Brasil, mas se esgotaram. Não foram capazes de dar um salto para um tempo em que progresso já não é mais crescimento da renda.

Não tem espaço para um Joaquim Barbosa, por exemplo?
Com todo o respeito e carinho que tenho, ele é desse grupo de pessoas que chegam de fora e podem não ser capazes de levar adiante um projeto. Com todo o respeito que possa ter por ele e por outros, mas chega como uma novidade tão grande que descola.

Hoje não existe mais sonho?
Não existe mais sonho. E essa é uma das razões do meu apoio a Aécio na campanha do ano passado. Primeiro, ele assumiria em lua de mel, como todo presidente assume. A Dilma, não. A Dilma assumiu com um casamento de 12 anos, que tinha cometido muitas traições e com o patrimônio da família depredado. Ele tentaria os ajustes que ela está tentando, com mais competência e sem a culpa. Mas o terceiro que é mais importante: o Aécio permitiria que nós, da esquerda, fôssemos para a oposição. É difícil sonhar com utopias quando você dorme nos colchões dos palácios. Os colchões dos palácios são confortáveis demais para querer deixar. Você quer dormir lá para sempre.

O que aconteceu com Lula?
O Lula nunca propôs nada de concreto para o Brasil. Nada de revolucionário, um novo rumo para o Brasil, salvo ele mesmo, que já é uma coisa nova. Pobre, nordestino, sem escola para chegar à presidência e sair-se bem. Porque não dá para dizer que ele se saiu mal.

Lula foi uma decepção para o senhor?
Ele sozinho, não. Tudo isso é uma grande decepção. Ele deveria ter chegado ao sindicato dos professores e dito: “Companheiros, nós temos que fazer uma revolução educacional. Então, vocês vão ter que trabalhar mais. Vão ter que estudar mais e não podem pedir mais aumentos de salários porque vou cortar dos banqueiros também”. Mas ele quis dar para os banqueiros e para as altas rendas. E quis dar salário aos professores. Mas esqueceu as crianças. Esqueceu a educação.

O senhor acredita que Lula participou dessas grandes negociatas?
Não sei. Não acho que participou, mas também não vou dizer que é ingênuo para não saber de nada. Também não tenho nada para dizer da Dilma. Só tenho a dizer que acredito que a presidente não pegou dinheiro, como acho que o (José) Genoino (ex-deputado federal do PT) não pegou também, para ele.

Fica surpreso ao ver esses grandes empreiteiros presos, na Operação Lava-jato?
Fico. Isso é uma coisa positiva do ponto de vista de serem milionários presos. Eu não sei se positivo ou não do ponto de vista das leis, como estão sendo usadas.

O senhor tem arrependimento de ter deixado o PT?
Não. Nem de ter entrado.

Presidente, nos vemos em Nova Déli

“Vou contar uma história que pouca gente sabe, sobre minha saída do Ministério da Educação. Um dia antes da viagem para Portugal e Nova Déli, na Índia, na comitiva presidencial, participei de uma reunião sobre cotas. E acho que foi ali que o Lula decidiu me demitir. Vou dizer por quê. Eu vi o olho dele. Só que na hora a gente não percebe. Estava naquela mesa oval grande, e o Lula fez a pergunta corretíssima. Ele disse: ‘Em vez de cota, não seria melhor ter uma boa escola para todos?’. Olhando bem nos olhos dele, eu disse: ‘Mas isso vai levar uns 20 anos e se a gente estivesse fazendo o dever de casa, presidente. E não estamos. Lamento dizer’. Senti que ele não gostou. Ele me fuzilou com os olhos. A última coisa que falei ao Lula, daria um ótimo título para um livro. Eu disse: ‘Presidente, nos vemos em Nova Déli’. Em Portugal, no meio da viagem, fui demitido.”

"Se o meu partido quisesse, eu toparia ser candidato à Presidência. Acho que é um bom momento para o meu discurso. Em 2006, o meu discurso estava muito antecipado aos problemas. Além disso, disputei com Lula presidente, com Alckmin, com Heloísa Helena, que tem aquele charme todo da virulência”

"Com a saída do Hélio (Doyle), o governador passa a assumir ele próprio. Hoje pouco se fala do novo chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio. Isso é bom. Um dos erros do Lula foi ter tido um primeiro-ministro, José Dirceu. Não é bom ter um primeiro-ministro se o regime é presidencialista”

Os seus críticos analisam que o senhor é honesto, mas dizem que o senhor fez um governo fraco. Esse julgamento é cruel?
Vamos deixar que os outros julguem. Esse foi um governo que criou um programa que virou referência no Brasil e nos países lá fora, a Bolsa Escola. Esse foi um governo que mudou a cultura no trânsito, graças também a imprensa,governo também que implantou um sistema de saúde, o Saúde em Casa, que esvaziou os hospitais. Esse foi um governo que atravessou quatro anos sem uma denúncia. Não tem um secretário meu que tenha saído rico. Esse foi um governo que criou soluções simples e viraram referência. Foi um governo que colocou água e esgoto em todas as casas onde não havia. E só não asfaltou tudo porque o Arruda não deixou receber o dinheiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Barrou. Mas o que não fiz, e realmente é o que marca, são viadutos. Não alarguei estradas. Concentrei o dinheiro em educação e saúde.

Quando o senhor fala que Arruda impediu a liberação do empréstimo, o que quis dizer?
Sempre tive uma boa relação com o (Pedro) Malan, mas no governo Fernando Henrique nosso contato foi bloqueado. Um dia, Malan me procurou para dizer que o contato seria por meio do Arruda, então líder do governo. Numa dificuldade, Arruda sempre vinha com uma solução. Costumo dizer que, se Arruda fosse cientista, inventaria um vírus para destruir a humanidade. Depois que destruísse um milhão ou dois, viria com a vacina para ganhar o Nobel. No governo Fernando Henrique, ele criava problema e resolvia. No caso do asfalto, não deu tempo. Depois veio o Roriz, pegou o dinheiro e botou o asfalto. Acho que eu teria ganhado a eleição, se fosse diferente.

A derrota para Roriz em 1998 foi dramática?
Não. Lamento apenas pela interrupção dos projetos. Se tivesse mais quatro anos, Brasília seria diferente na educação, na saúde, na honestidade do governo, na relação com a Câmara. Os deputados não teriam entrado na relação do toma lá, dá cá. O DF seria outro.

O senhor e o governador, que tiveram um momento mais crítico, agora estão numa fase de paz?
A minha relação pessoal com o Rodrigo nunca esteve melhor nem pior. Sempre foi boa. Agora sinto que ele não quer sair da armadilha da falta de recursos, que é verdadeira. Não sou daqueles que dizem que ele inventa. Mas essa falta de dinheiro não pode amarrar o governo. Quando um administrador é procurado, diz que não tem dinheiro. Não procuram uma saída. Eu me lembro quando as cidades estavam muito sujas, eu contratei carroceiros. Ensinei os carroceiros a vender o lixo reciclado. A gente precisa criar as coisas. Rodrigo caiu na armadilha da falta de dinheiro e não está percebendo que não vai terminar bem se não for capaz de fazer coisas apesar da crise. Sinto falta de um secretário que puxe para cima. Existe um baixo astral muito grande no governo do Distrito Federal.

O Hélio Doyle foi o homem-forte no seu governo e saiu depois de um ano de trabalho. Com seis meses, aconteceu a mesma coisa com Rollemberg.  Acha que a história se repetiu?
Tirei o Hélio da Secretaria de Governo, mas queria que ele ficasse com a Secretaria de Comunicação. Ele não quis. No meu governo, não deu certo porque ele tem um espírito muito controlador. Estava controlando demais. Era impossível continuar assim. Não foi por incompetência. Não foi por desonestidade, de jeito nenhum. Ele é muito competente. Eu o considero um homem honesto na vida pública, mas tem um comportamento extremamente controlador de tudo o que acontece no governo. E aí não funciona porque tem o governador, o vice-governador e os outros secretários. Ele era apenas um secretário. Tem também os deputados distritais, que precisam ser respeitados.

O senador Reguffe reclama de não ver executado o projeto que isenta medicamentos de impostos, apesar de ser compromisso de Rollemberg na campanha…
O projeto do Reguffe beneficia a nós, classe média, porque o pobre mesmo, hoje, graças ao Lula, já recebe a maior parte dos remédios gratuitamente. Mas dava para o governador fazer um gesto para o Reguffe e aprovar a lei que reduz o imposto.

E não faz por quê?
Não vou querer ser indiscreto, dizendo o que ele me diz (risos). Mas acho que ele crê que seria um sinal negativo na imagem de que está sem dinheiro. É o que eu chamo de armadilha.

Como sair dessa armadilha?
Primeiro, precisa ser austero. Não pode gastar muito. E aí me preocupa porque ele está com um plano bom. Mas de obras. Não de investimentos, de criações. Deixaria obras de viadutos para mais adiante. Segundo, precisa usar mais a imaginação e mobilizar a população.

As obras não seriam uma forma de aquecer a economia, numa cidade muito voltada para a construção civil?
Mas a que custo? Pode-se dinamizar a economia de outra forma.

A saída do Hélio Doyle vai facilitar a relação com a Câmara Legislativa?
Facilita. Com a saída do Hélio, o governador passa a assumir ele próprio. Hoje pouco se fala do novo chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio. Isso é bom. Um dos erros do Lula foi ter tido um primeiro-ministro, José Dirceu. Não é bom ter um primeiro-ministro se o regime é presidencialista.

Como está a relação do PDT com o governo? Há tendência a rompimento?
Não. Isso não entra no debate, apesar de a Celina Leão estar fora. Mas não sinto isso como um sentimento do partido.

Andando em Brasília, 20 anos depois de ter chegado ao governo, acha que a cidade está pior?
Não está pior. Acho que a autoestima está pior. A saúde está pior. O Saúde em Casa segurava as pessoas. Não se via essa tragédia dos hospitais.

O senhor se imagina novamente no Palácio do Buriti?
Não me imagino.

Muitos avaliam que a sua votação seria alta…
Talvez por isso eu não queira ser candidato. A gente tem que saber a hora de não ser mais as coisas.

E candidato à Presidência novamente? Toparia?
Se o meu partido quisesse, toparia. Acho que é um bom momento para o meu discurso. Em 2006, o meu discurso estava muito antecipado aos problemas. Além disso, disputei com Lula presidente, com Alckmin, com Heloísa Helena, que tem aquele charme todo da virulência. O meu partido não queria. Fui candidato porque o (Carlos) Lupi queria e alguns outros. Cheguei em cidades em que não tinha ninguém me esperando. Acho que hoje há necessidade de um discurso novo.

O jogo está zerado?
Hoje, tem muito mais gente querendo a educação, sou muito mais conhecido hoje, a TV Senado ajuda muito. Eu gostaria, mas estou achando difícil.

Por quê?
O PDT se entranhou demais com o governo. Eu não vejo o PDT se afastando do governo Dilma. Mas, se a gente se acabar com o governo Dilma, não teremos chance. Além disso, a provável entrada dos Gomes no partido pode inviabilizar. Afinal de contas, eles não têm o discurso que tenho, o tempo que tenho, a tradição brizolista, mas o Ciro Gomes teve 20 milhões de votos. Independentemente do que possa significar a vinda deles, não acho uma boa. Ontem, eu disse a uma rádio do Ceará que o PDT não é o melhor lugar para os Gomes porque eles são grandes demais para um partido pequeno e descoloridos demais para um partido pequeno. Além disso, quando me perguntam o que acho de eles entrarem no PDT, digo que fico surpreso. Nunca soube de eles entrarem num partido, apenas passarem por eles.

Reguffe seria um nome para o governo?
Se ele se decidisse, seria. Mas é preciso que ele se decida.

A presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PDT), tem projeto para o governo?
Ela diz, com toda clareza, que quer ser deputada federal. Nós chegamos a cogitar a possibilidade do Joe Valle (deputado distrital) na última eleição. É um ótimo quadro. Mas a melhor surpresa é o Professor Reginaldo (Veras). Tem posições firmes, corretas. Eu tenho gostado muito.

O senhor tentou a ajudar o governo Agnelo?
Tentei, mas não consegui nada. O que provocou em mim o afastamento foram alguns gestos dele, por exemplo, ele dizer de saída que eu poderia comunicar ao ex-deputado Peniel (Pacheco) que ele seria o secretário do Trabalho. Depois, esqueceu isso. Segundo, sou ligado à educação e tomar conhecimento de que havia uma secretária de Educação, pela televisão, foi muito chato. E da UnB, que é a minha casa. Poderia ser alguém com quem eu não me desse. Como disse ao Rodrigo, não indico ninguém para o governo, mas gostaria de ser ouvido sobre todos, pela minha experiência.

Como recompor a cidade, depois de dois governos complicados?
É se agarrar na busca de elevar a autoestima. O que precisa para elevar a autoestima? Não é o estádio, como Agnelo achou.

O PT deveria se aproximar do governo Rodrigo Rollemberg?
Para beneficiar Brasília, sim. Mantenho contato com o PT. Nesta semana mesmo, liguei para dois petistas: o Ricardo Vale, para parabenizá-lo pelo projeto de mudança do nome da Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino Guimarães; e para Érika Kokay, pelo voto contra a redução da maioridade penal. Fiquei chateado com o Reguffe porque vai votar a favor da redução.

Por que essa posição?
Acho que, de fato, é o que a população quer. Nós, que somos contra, estamos isolados.

E a UnB, como o senhor vê hoje? Acha que existe um excesso de cotas?
Pode ser que, na proporção, haja mais do que deveria. Mas ainda acho necessário cotas, até que as escolas sejam iguais para todos. Enquanto as escolas de base forem desiguais, tem que ter cotas.

Como está a UnB?
Hoje, a qualidade caiu muito por causa da educação de base. As universidades não estão bem. Mas a culpa também é do corporativismo e do partidarismo. Quando era reitor, eleito diretamente, já dizia que a eleição deveria durar 20 anos. Já faz 30. Acho que hoje a eleição direta não é um bom instrumento para escolha de reitor. Você vota em quem vai reduzir sua carga de trabalho, lutar pelo aumento de salário. O espírito da universidade ficou em segundo lugar.

Já foi ao estádio Mané Garrincha?
Não sou muito ligado ao futebol. Depois, critiquei muito esse estádio de Agnelo. Um dia irei. É um patrimônio da cidade. Acho que se gastou muito mais do que deveria. Foi um desperdício. Deveria ser menorzinho. Aliás, o do Arruda era bem menor.

Fonte: Correio Braziliense.
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